viagem

Rilke, Brasília e Paulo de Tarso


"Acredito que quase todas as nossas tristezas são momentos de tensão, que sentimos como uma paralisia porque não ouvimos ecoar a vida dos nossos sentimentos que se tornaram estranhos para nós. Isso porque estamos sozinhos com o estranho que entrou em nossa casa, porque tudo o que era confiável e habitual nos foi retirado por um instante, porque estamos no meio de uma transição, em um ponto no qual não podemos permanecer. É por isso que a tristeza também passa: o novo em nós, o acréscimo, entrou em nosso coração, alcançou seu recanto mais íntimo e mesmo ali ele já não está mais - está no sangue. E não percebemos o que houve. Seria fácil nos fazer acreditar que nada aconteceu, no entanto, nos transformamos como uma casa se transforma quando chega um hóspede. Não somos capazes de dizer quem chegou, talvez nunca cheguemos a saber, mas vários sinais indicam que o futuro entra em nós muito antes de acontecer". Fragmento de Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke

Rilke e o voo a Brasília
O voo de Porto Alegre a Brasília (com escala em Guarulhos) foi longo. Consegui ler, durante o voo, o livro Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke (considerado um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã). O crítico literário austríaco naturalizado brasileiro, Otto Maria Carpeaux (1900-1978) afirmou: "Rilke é o poeta mais atual e permanente do nosso tempo".

O livro de Rilke (que tinha acabado de ler) é fruto de trocas de correspondências entre o poeta Rilke e um jovem chamado Franz Kappus, que aspira tornar-se poeta e pede conselhos ao já famoso escritor Rilke. Além de responder os questionamentos do rapaz. E, muito mais que isso, Rilke expõe suas opiniões sobre o que considerava os aspectos verdadeiros da vida. A criação artística, a necessidade de escrever, Deus, o sexo e o relacionamento entre os homens, o valor nulo da crítica e a solidão inelutável do ser humano. "É uma bela obra que representa fielmente a beleza da prosa de Rilke e a riqueza de seu pensamento".

A leitura de Rilke fez sentido para mim naquele momento. Era a minha primeira viagem a Brasília. Capital Federal do Brasil. Abriga a sede dos Três Poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário), além de 127 embaixadas estrangeiras.

O sonho de ser embaixador

Relembro, no meu primeiro ano de graduação (1998), no curso de Relações Internacionais, que o meu sonho era ser diplomata. Pensava ainda: "Oxalá - um dia - chegar a ser embaixador na capital de um país estrangeiro".

Caros leitores, para ascender ao cargo de embaixador (via carreira), depois de ser aprovado no concorrido e disputado concurso público de admissão à carreira diplomática, é necessário dois anos de um curso preparatório. E depois evoluir para segundo secretário, primeiro secretário, conselheiro, ministro de Segunda Classe e ministro de Primeira Classe (mais conhecido como embaixador).

Por razões que eu desconhecia naquela época, enveredei pelo campo da pesquisa e do ensino. E, hoje, sou professor e pesquisador do ensino superior na área de Relações Internacionais (UFSM).

O motivo da viagem a Brasília

Viajei para Brasília, para representar o curso de Relações Internacionais (Universidade Federal de Santa Maria), num ciclo de eventos no Palácio do Itamaraty (08 e 09 de dezembro de 2011).

Conheci inúmeros pontos turísticos (Catedral Metropolitana, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Palácio da Justiça, Praça dos Três Poderes, Torre de TV e Mirante, Ponte JK, Planetário, Museu Nacional e Memorial Juscelino Kubitscheck) da cidade de Brasília e o evento foi muito profícuo e produtivo.

Além da parte de informação e conhecimento compartilhada entre os presentes, o evento me ensinou algumas lições existenciais.

Ao retornar do evento para o hotel, fiquei pensando e "se" eu tivesse escolhido à carreira diplomática? Senti certa angústia.

Imediatamente abri - aletoriamente - a Bíblia do quarto de hotel. Estava grifada a passagem da carta de Paulo de Tarso aos Romanos: "Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino".

Sorri e preparei a mala. Era hora de voltar para casa (Santa Maria).

Rabisquei no meu bloco de anotações: "na vida, tudo tem uma razão, um sentido, um significado".

Obs: Curiosamente, no dia que comecei a escrever esse texto (dia 14 de julho) para a coluna do DSM, o primeiro prefeito de Brasília - Paulo de Tarso Santos - faleceu na mesma data.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Ilha da magia Anterior

Ilha da magia

Colunista ensina a fazer um ossobuco no vinho tinto com polenta mole Próximo

Colunista ensina a fazer um ossobuco no vinho tinto com polenta mole